17 de fevereiro de 2010

Mensagem quaresmal de D. Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

Quaresma, tempo diferente

A Quaresma deve tornar-se um tempo característico da vida dos cristãos. Devemos, por isso, recuperar o seu autêntico significado.
Como tempo “diferente”, seria fundamental reservar momentos para a reflexão e silêncio. A vida corre e nem sempre conseguimos “acolher” as riquezas que os tempos litúrgicos nos oferecem. Daí que aconselhe vivamente a leitura da mensagem do Santo Padre para a Quaresma, assim como a Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa sobre a preparação da Visita do Santo Padre a Portugal. Conseguiremos extrair autênticos desafios de conversão e compromissos para a vida pessoal e comunitária.
Apoiado na mensagem do Santo Padre, quero solicitar aos nossos cristãos um tríplice empenho.
1. Precisamos de Deus como o essencial, e só com Ele construiremos um mundo onde cada um tenha o que é “seu”, acabando com injustiças escandalosas.
2. Para entender esta dinâmica, importa abrir-se a tempos fortes de acolhimento da Palavra para que esta desmonte as nossas estruturas egoístas e nos projecte na responsabilidade duma sociedade mais justa.
3. Acolher a Palavra é sinónimo de “abrir-se” ao amor. Nesta perspectiva, o Contributo Penitencial será o resultado de diversas – talvez pequenas – renúncias quaresmais. Sem espírito de sobriedade não é possível construir uma sociedade solidária, onde o bem comum solidifica uma fraternidade, garantindo que nada de essencial falte a alguém.
Como habitualmente, o Contributo Quaresmal, expressão de uma partilha pessoal, orientar-se-á para uma finalidade de âmbito local e outra de expressão universal.
3.1. A tragédia do Haiti não desapareceu. As suas marcas de destruição persistem nas pessoas que necessitam de um acompanhamento mais fraterno e de condições para recomeçar a viver com dignidade. A Igreja local necessitará de novas estruturas e de meios materiais. Queremos entrar na aventura da reconstrução de um povo e de uma Igreja. Não faltaremos com a nossa generosidade.
3.2. Olhando para o nosso contexto, gostaria de solicitar um empenho em respostas de proximidade. São muitas as exigências. Na necessidade de optar, parece importante marcar, mais uma vez, a nossa presença na construção da Domus Fraternitas, a edificar em Montariol. Trata-se de um Centro de Acolhimento (“O Poverelho”) que integra as seguintes unidades: Unidade de Cuidados Continuados de Média Duração e Reabilitação (capacidade para 23 camas e tempo de internamento de cerca de três meses); Unidade de Longa Duração e Manutenção (capacidade para 23 camas de internamento para além de três meses) e Unidade de Cuidados Paliativos (capacidade para 10 camas em situações terminais).
Iniciamos uma nova Quaresma.
Procuremos intensificar a responsabilidade de acolher a Palavra e, pensando nos nossos sacerdotes, aceitemos, em Igreja Arquidiocesana, a maravilhosa Verdade de sermos um Povo Sacerdotal que, também nesta perspectiva, se disponibiliza, interior e exteriormente, para ir dando a vida para que as injustiças desapareçam e surja uma humanidade de igual dignidade para todos.

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz